a minha língua

a minha lingua não é minha

a minha lingua anda sozinha

a minha lingua não caminha

minha língua nem nasceu

a minha língua é de Caminha

a minha língua é como eu

a minha língua engatinha

a minha língua encaminha

a minha língua é de guerra

eu não acredito nela

irmão não fala comigo

fala a língua do inimigo

papagaio bicho solto

aprendeu falar bonito

e bicho que não é bobo

guardou a dele no ninho

sabe que bicho sem língua

é bicho que fala sozinho

ou na coleira tem dono

e pensa que dono é amigo

minha língua é matreira

inda quer ser brasileira

minha língua é guerreira

cruzou com aventureiro

pôs negra no terreiro

bispo e torre em tabuleiro

parte dela até morreu

outra parte se esqueceu

já disse minha língua

você é como eu

não se fie não se afogue

filho, você é meu...

por isto preciso tanto

um deus-me-ajude-e-me-proteja

com uma língua tão doida assim

o que esperam de mim?

Suzane Rabelo
Enviado por Suzane Rabelo em 05/09/2010
Reeditado em 10/07/2011
Código do texto: T2480121