HOMEM E MULHER

Na palma do teu corpo

a minha mão te veste

com luvas nuas de pudor;

a cada momento de encabulamento

mais te descubro,

a cada timidez de outro gesto oculto

mais te acoberto.

Fomos barrados, por engano,

por excesso de carinho no primeiro encontro,

trocamos de sala e entramos no cinema

com jeito de platéia até nos beijarmos

causando uma inveja indisfarçável

aos astros da tela grande!

Na forma do teu corpo

a minha pele te seduz

com decalques em carne viva;

na dolorida cicatriz da maturidade:

és criança,

na descolorida tatuagem de adulta:

és definitiva.

Fomos censurados, por engano,

pela diferença da idade marcada nos registros,

compenetramos o ficar em qualquer sentido

enquanto desenrugávamos os matutinos

com fotos de bolos e outras receitas

de beijos para o indiferente!

Na silhueta do teu corpo

o meu jeito te acomoda

como os bichos de parede;

ao acender da luz, a sombra gesticula

arregalada

um piscar de olhos para o indivisível

aconchegado.

O nosso corpo não é um acaso estético!

Somos mulher e homem!

E deixo a palma das tuas mãos

percorrerem meu corpo, como se teu fosse,

desencabulo meus arrepios indefesos de tua língua

e me entrego de todas as formas para mais e mais te conter.

A nossa forma de amar mora no abraço.

É nele onde esquecemos

as velhas histórias, já antigas,

a vontade de fazer xixi no meio da noite

e o gosto da leitura do jornal no café da manhã.

Somos homem e mulher!

Amanhã, sempre juntos,

encontraremos nosso despertar.