Displicência

"Também para ele não é preciso dormir, e sim ficar insone até a consumação. Ele se mantém neste mundo absurdo, denunciando seu caráter perecível. Procura seu caminho no meio dos escombros."

(Albert Camus - O mito de Sísifo)

De todas as muitas desgraças

Que acomedem um ser,

A impotência consegue destruir

O restante do orgulho

Dos que ainda são humanos.

Aquela palavra que não foi dita,

Aquele excesso que feriu algo quase insignificante,

Incompatibilidade de seja lá o que for,

Tudo é motivo que justifique o estranhamento.

Os pensamentos que não obedecem mais,

Aquele sono que não chega, mesmo num corpo cansado,

A maculada vontade de dizer que nada mais importa,

Só o que se sente.

Um estudo triste e fenomenológico da alma,

A náusea pós-moderna do que é aplicável,

Um cumprimento automático.

Esse comedimento das verdades,

A propaganda gratuita da busca de prazeres.

O silício.

A busca desesperada pela solução

Da angústia contemporânea.

O entardecer da mentira

E sua precipitação que a anula.

A razão cega.

Maria Clara Dunck
Enviado por Maria Clara Dunck em 25/09/2006
Código do texto: T249026
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