Displicência
"Também para ele não é preciso dormir, e sim ficar insone até a consumação. Ele se mantém neste mundo absurdo, denunciando seu caráter perecível. Procura seu caminho no meio dos escombros."
(Albert Camus - O mito de Sísifo)
De todas as muitas desgraças
Que acomedem um ser,
A impotência consegue destruir
O restante do orgulho
Dos que ainda são humanos.
Aquela palavra que não foi dita,
Aquele excesso que feriu algo quase insignificante,
Incompatibilidade de seja lá o que for,
Tudo é motivo que justifique o estranhamento.
Os pensamentos que não obedecem mais,
Aquele sono que não chega, mesmo num corpo cansado,
A maculada vontade de dizer que nada mais importa,
Só o que se sente.
Um estudo triste e fenomenológico da alma,
A náusea pós-moderna do que é aplicável,
Um cumprimento automático.
Esse comedimento das verdades,
A propaganda gratuita da busca de prazeres.
O silício.
A busca desesperada pela solução
Da angústia contemporânea.
O entardecer da mentira
E sua precipitação que a anula.
A razão cega.