os bichos na minha vida

cortei meu cabelo e as minhas unhas

vi minha cara no espelho

e a alma nova nua

não é nada de modas ou modismos

é poda mesmo!

Não estou presa à minha infância

não tenho um daqueles sonhos malucos

de querer voltar a ser criança

gosto delas, todas elas, não porque lembrem a mim

só porque são elas, elas mesmas, lindas, ainda

e se digo ainda é que posso ver nelas os adultos às suas voltas

poucas conseguirão se livrar destes doentes

destes pequenos fantasmas, espíritos obsessores

que um dia ainda pequenos também foram obsediados

e partir

ao encontro de si mesmas!

dos outros bichos me remeto à minha infância

gatos, muitos gatos, cães, muitos cães, preás,saracuras,cobras, muitas cobras, eu circulava entre elas, são seres nervosos, sempre encontrava alguma nas trilhas por onde eu andava, sozinha, e me impressionava com aquela atitude de se enroscarem em si mesmas e me mostrarem a língua, penso até que é delas a herança humana de por-lingua em sinal de vá se ferrar, bom, como eu não sentia nem raiva nem medo, nem nada, seguia meu curso e elas o delas!

Urubus, criamos um filhote que se perdeu da mãe, do bando, sei lá, ele era todo branco e sei da força que tem aquele bico arqueado, prendendo meu indicador. Em cada poste da cerca do pasto em frente a nossa vista tinha um, céus, eram muitos, e izabel dizia orgulhosa que eram as suas galinhas, ninguém tinha mais galinhas que izabel!

Um tiú que eu resolvi caçar fazendo fogueira sob a rocha e ele não saiu de lá, pude sentir o cheiro de carne queimada, o que me fez desistir de ser caçadora, graças-a-deus, e das gias que eu pescava no córrego e as jogava vivas no borralho do forno de assar quitandas, para transformá-las em guisado, nossa, como eu estive maluca!

A partir daí a minha relação com os outros bichos mudou, mesmo relapsa eu passei a protegê-los da loucura humana...

Jack, o poodle que saltou da caminhonete e quis ser vira-latas, panga o cavalo que não me matou porque não quis, mas me mostrou que poderia se não o deixasse em paz, fizemos belas trilhas, pandora, a cadela que sobreviveu a uma tentativa de assassinato por ordem da dona e acabou em minha companhia, era minha protetora, inteligente, cuidava de proteger a sua caçadora de alimentos, uma gigante doce!

E dona gata, que anda comigo como anda um cão e me anuncia a presença de seres que só ela pode ver, falo no presente do indicativo porqueesperoencontrá-la

Suzane Rabelo
Enviado por Suzane Rabelo em 18/09/2010
Reeditado em 22/11/2010
Código do texto: T2505663