Caminhada

Hoje eu aprendi o significado do “caminhar para espairecer”

Que sempre me disseram entre rugas,

Mas nunca pude compreender.

Porque minhas pernas, inquietas, chatas e estranhas

Não conseguem mais suportar toda a angústia

De quem pouco tem a ansiar ou desistir.

Pois eu sei, mais do que meus próprios ossos,

Que andar é negociar com os sentimentos,

E eu ando.

Então descobri, que além de escrever

Pra estragar e consertar,

Posso caminhar e respirar o orvalho.

Então direi aos interessados

Que as lágrimas vieram da madrugada,

Das pessoas que entoavam preces nas esquinas,

E das que paravam em fila dupla pra fumar um cigarro.

E eu que não sabia que as vezes é preciso parar...

Eu cantei e esqueci que o dia veio

Pra que eu pudesse ver claramente a realidade.

Deitei e esperei a noite chegar

Pra sonhar aquilo que eu não consegui ver.

Insista, me disseram, nesse eterno espairecer.

Ontem eu insisti, e por volta das 20 horas eu morri.

Volto inadequada, insana e veloz pra lhe dizer

Que não dura, aqui, a hipocrisia,

Pois ela é cansativamente esmiuçada em segredo.

Ordem, calma e regresso.

No outro dia é preciso acompanhar a volta,

Mesmo que tardiamente:

Já que nem mesmo no caos eu me acho

Devido à minha incapacidade de lidar com o incoerente.

Maria Clara Dunck
Enviado por Maria Clara Dunck em 27/09/2006
Código do texto: T250614
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