Quadro

Quadro

Sandra Ravanini

Nem sequer o silêncio se fez ouvir

dentro da noite farta, vãs palavras,

tocaiando o esquecimento ao cio da escrava

penitência, olhando a pressa de fugir.

Contemplo o ciclo, a dura foice outonal,

derrubando a flor, as lendas e dervis;

nem sequer a decomposição da anis

deixou às estações o seu aroma angelical.

E o tempo sagrado em salmos e risadas

abre a algema e a rachadura do inverno,

livrando o absinto do punhal interno

embebido no extrato da emboscada.

Encanto o rito, a obediência embriagada,

e as lareiras de amores via Riviera;

nem sequer o espinho da primavera

verá a estação da noite escravizada.

Nem sequer o outono foge do punhal

sagrando as dores em salmos e absinto,

deixando os ciclos ao branco que sinto

nesse quadro distante da estação final.

28/04/2009