sangria

Não vou cantar o que tu cantas soberbamente

preciso fazer as minhas próprias canções

Ainda posso tirar este ar pesado dos pulmões

e sentir a poesia na ponta dos meus dedos

que nesta vida de gente grande é isto

ruminar alfafa com gosto de batatas assadas

e andar a passos-de-tartaruga até o por do sol

Tens um coração que é uma rocha

arenosa, desmanchas ao soprar do vento

Nem precisas de espaço para pouso

te espalhas, quisera eu poder tocá-lo

não posso, ainda não sou a brisa

Só poderei ser água que regue, que cura

e o meu coração é nenhum feldspato

Tampouco sou assim tão dura, creia-me

E não estou sentada à direita de deus

nem à esquerda dele, sou a filha caída

Filho de deus é deus, e a ele os privilégios

A mão continuada no braço estendido

o poder de condenar e absolver a alma tocada

Deuses não tratam com impuros mortais, ai de mim

Têm o sol sob domínio e prometido o paraíso

Volto a minha vista para onde aponta o poeta

visito templos e tomo esta aguardente amarga

ela cheira absinto, eu ouço vozes e não há ninguém

só estes passos em meu encalço e eu pensava

que o céu estivesse aqui neste entroncamento!

Suzane Rabelo
Enviado por Suzane Rabelo em 23/09/2010
Reeditado em 20/07/2011
Código do texto: T2515460