Movimento dos barcos

Estou cansado e você também...

Nosso amor tornou-se um cais sob a neblina

Com barcos de velas rotas,

Movimentando-se, inutilmente, ao sabor das ondas...

Não sou eu quem vai ficar sentado

À beira deste cais,

Lamentando o eterno movimento dos barcos

E sonhando um momento para além do cais...

Vou sair sem olhar para trás,

Não quero voltar nunca mais...

Não quero ficar vendo as coisas

Passando ao largo de mim...

Quero passar com as coisas

Num eterno movimento sempre para além...

Desculpa-me a paz que te roubei,

E os gestos clandestinos que ignorei,

E o futuro sonhado que te subtraí,

E o sentimento de entrega

Que nunca soube como expressar...

Não chores a saudade de quem não te soube amar,

Não alimentes os fantasmas da solidão,

Não te deixes cair no vazio do desamor,

Não guardes de mim lembranças vãs...

- Levo todas as coisas que possam despertar lembranças minhas -

Não quero deixar marcas de minha passagem:

Não deixo mais que uma garrafa de absinto vazia,

As cinzas dos cigarros que fumei na noite insone,

Um copo vazio, papeis amassados...

Meu coração é uma imensa floresta

Consumindo-se em chamas...

Parto ébrio de embriaguez, de liberdade...

Parto para momentos além deste cais,

Parto para a vastidão do mar,

Parto para a lassidão das horas marítimas,

Parto em busca do cais sonhado...

Adeus... Adeus...

Vou para nunca mais voltar...

Oliveira