criadores e criatura

para que presta a palavra nascida criada para iludir envenenar o ser

a quem serve a palavra se fere e sangra o ouvido o corpo enfim

por quantos diabos as nossas mentes, doentias, teimam tanto

insistem, trazer esta criatura à tona, dar-lhe vida

se ela arruinará toda possibilidade de harmonia

e ainda nos dirá que é para o nosso bem e glória

todo artifício será só uma negação do medo

brinquedo desajeitado de quem não conhece um outro lado

ou será a maldade e a ira tomando território

onde começa a loucura de toda antítese?

não sei mas proponho, assassinemo-la, abortemo-la

antes que chegue à boca, antes que alcance o outro, e vície

antes que cause a guerra arranquemos suas raízes, do peito devolvamos-la ao vazio, ao inexistente, ao nada

proibamos-la de ser feliz enquanto toma de assalto nosso mundo

e imunda, protejamos a entrada e todas as saídas

permaneçamos mudos, até filtrar toda inteligência

até imunizar toda existência

até que a assassina não encontre uma só fresta para adentrar

em nossas almas

Suzane Rabelo
Enviado por Suzane Rabelo em 27/09/2010
Reeditado em 06/07/2011
Código do texto: T2524031