Aquele dia 23
"Ah! Minha ruína é pior que a de Tebas!
Quisera ser, numa última cobiça
A fatia esponjosa de carniça
Que os corvos comem sobre as jurubebas!"
(Augusto dos Anjos - Tristezas de um querto minguante)
Dois sinos tocam na multidão:
O acaso e a sorte.
Um cigarro queima a sensível pele
E o branco coração.
Nesta cor não sei se há sorriso
Ou choro contido.
Há tudo que nunca me serviu de fato.
Essas roupas molhadas são combustíveis
Da cena rubra, que eu pedi e não cri.
Músicas que tocam no alpendre
Trazendo toda a melancolia do depois.
Mas deixe-me viver o antes -
Memória, que em cada presença me encerra -
E pisar no barro da inquietação.
Mas não foi afogada que eu morri.
Dança curta, beijos longos,
A fotografia de um retrato da mentira;
Só de uma.
Os olhos alheios, a quase exuberância
Das bocas
E o meu crer e descrer do amanhã
Em vinte e poucas horas de fuga
E do desvelo tardio do reconhecimento
Daquele mito universalmente conhecido.