OLHOS LENTOS

teus olhos lentos

me sugam conhecimentos

me privam das capacidades

me empobrecem de talentos

e eu fico nu

sob o sereno

ando nu

debaixo da chuva

me sinto inútil

como o sexto dedo da luva

teus olhos lentos

me incineram inclementes

me extirpam orgãos vitais

me auscultam impacientes

me infantilizam

e eu fico nu

diante da multidão

caio nu

diante da igreja

acordo nu

num sofá puído

me entrego nu

a um vermute barato

e espero nu

que algo aconteça

me sinto inútil

como o ar acima da cabeça

teus olhos lentos

teus olhos de coruja

penetram, paralizam

antes que a presa fuja.