Tudo é hábito
Tudo é hábito. E o movimento
é a reinvenção da vida.
Atônito, ouço os sussurros das paredes.
Pela brecha que a porta dá para o medo
vejo a lógica, este metal enigmático, redobrar-se.
À medida que percebo que o que escrevo
é exatamente o contrário do que sinto
esse metal se encurva ciclicamente.
E esse medo, e essas paredes, e esses versos
são a tentativa maçante
de a vida me reinventar.
Minha paciência de escovar dentes, dormir cedo,
ler Drummond, ouvir D’Javan,
correr no vento, voar do chão,
já se integra, embora oscilante,
ao movimento de se redobrar.
A perfeição está no que eternamente faço,
e o que faço está além do que penso,
pois quando penso navego num oceano
dilacerante, onde o fazer não existe.
Mas o que quero faço, mesmo sem pensar que quero.