Tudo é hábito

Tudo é hábito. E o movimento

é a reinvenção da vida.

Atônito, ouço os sussurros das paredes.

Pela brecha que a porta dá para o medo

vejo a lógica, este metal enigmático, redobrar-se.

À medida que percebo que o que escrevo

é exatamente o contrário do que sinto

esse metal se encurva ciclicamente.

E esse medo, e essas paredes, e esses versos

são a tentativa maçante

de a vida me reinventar.

Minha paciência de escovar dentes, dormir cedo,

ler Drummond, ouvir D’Javan,

correr no vento, voar do chão,

já se integra, embora oscilante,

ao movimento de se redobrar.

A perfeição está no que eternamente faço,

e o que faço está além do que penso,

pois quando penso navego num oceano

dilacerante, onde o fazer não existe.

Mas o que quero faço, mesmo sem pensar que quero.

Júlio Miguel
Enviado por Júlio Miguel em 01/10/2010
Código do texto: T2531651
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.