As fezes do pombo

Enquanto eu, bobo, olhava o céu,

Um pombo levantou voo,

Voou por sobre mim,

E defecou em minha cabeça...

E as fezes, fétidas fezes de pombo

Se espalharam pelos meus cabelos,

E chegaram ao couro cabeludo,

E penetraram pelos poros,

E derramaram-se sobre meu cérebro,

E consumiram meu cérebro,

E meu cérebro apodreceu por completo...

E as fezes entraram em minha corrente sanguínea,

Contaminando o meu sangue,

E se espalhando pelo meu corpo,

Penetrando em minha alma,

E se multiplicou,

E ganhou volume,

Enchendo de fezes todo o meu ser...

Até que já não era mais possível separar as fezes de mim,

Ou eu das fezes,

E eu já não sabia o que era eu

E o que eram as fezes...

Éramos uma coisa só,

Um grande e disforme bolo fecal,

Que crescia e inchava mais e mais...

Até explodir!

E espalhar fezes por todo lado,

Em todas as direções,

Até que havia fezes em todos os lugares,

E o mundo inteiro,

Todo o universo,

Tudo era fezes,

Era podridão,

Era fedor,

Era caos...

E tudo voltou ao início.