VUELO

NINHO

a poesia é passarinho

pergunte a Quintana

a poesia emana

das penas da ave

poesia cigana

ANISTIA

Desculpe-me, poesia

hoje vou pra folia

não me siga

não esteja no meu encalço

hoje quero anistia

não a quero amiga

vou me entregar ao sabor da carne

pecaminosa

pois nem sou de aço

vou beijar, abraçar

tirar uma prosa

entrar em órbita

tomar um drink colorido

sofisticado

imploro

não faça como de outras vezes

não quero vê-la no fundo da taça

não a quero ao meu lado

MIRAGEM

mãos por dentro do vestido

o mundo rodopia

gira ao contrário

perde o fuso horário

mãos por dentro do vestido

privação dos sentidos

espiral de vertigens

miragem

do rio na outra margem

NÃO ME OLHE ASSIM

Não me olhe assim

com esse olhar que invade a alma

não

não me olhe assim

de fazer perder a calma

não fale comigo com a pele de teu rosto

não me fale com essa voz de sol posto

por caridade

não me desequilibre

e nem me mostre essa boca

essa face querida

essa fisionomia que ultrapassa a real vida

não me olhe assim

não fale comigo

seu olhar é meu maior castigo

e eu nem me lembro onde pequei

se fiz algum mal, eu não sei

esqueci

não me olhe assim eloquente

sol do deserto

inclemente

VUELO

Vuelo uno, dos, siete, cuatro, ocho...

decolagem autorizada

um ao lado do outro

as luzes apagadas

mão na mão

descansa agora em profundo sono

o avião

é madrugada

ah, as estrelas por testemunha

a lua linda

e calada

segue a aeronave a rota planejada

e o piloto não imagina

que pilota o cumprimento de uma sina

confere os botões do painel

festeja o ceu

leve turbulência o pássaro estremece

em prece

aumenta o tremor

desperto desse tolo sonho

de amor