o homem que comia células

Nem planta nem bicho mas, visível o sentimento meio esquisito

estranho na cena, na arena, no mundo, na vida

Tem medo, não entende, onde o vôo e o mergulho vão dar

Por ser volátil precisa que algo ou alguém lhe segure firme, pelos pés

deixar o barco em remanso e sonhar com a travessia

enquanto move o tronco, os braços e a mão, o sonho

enquanto paralisa o pensamento e por vezes a ação

Talvez não saiba mais como viver de outro jeito

Talvez não seja nada disto, seja só um jeito sem-jeito

Algo que o prenda ao chão, ainda que um chão movediço

Mesmo que o deixe à mercê de alguma loucura

alheia, ela será sua enfim e o deixará completamente imerso

entre todos os talheres naquela mesa, e aqueles ovos

quentes, fritos, em omeletes, à poché e ambrosias

ovos, ovos, ovos, ovos

Já não sabe mais quando começou a comê-los, nem se lembra

mas os comerá até sentir vertigem, até adoecer o estômago

Talvez até sangrar em úlceras

Só sabe que é dele a função de manter o motor

em movimento, pronto a dar a partida para o inferno

para o paraíso!

Suzane Rabelo
Enviado por Suzane Rabelo em 11/10/2010
Reeditado em 07/12/2010
Código do texto: T2549747