o homem que comia células
Nem planta nem bicho mas, visível o sentimento meio esquisito
estranho na cena, na arena, no mundo, na vida
Tem medo, não entende, onde o vôo e o mergulho vão dar
Por ser volátil precisa que algo ou alguém lhe segure firme, pelos pés
deixar o barco em remanso e sonhar com a travessia
enquanto move o tronco, os braços e a mão, o sonho
enquanto paralisa o pensamento e por vezes a ação
Talvez não saiba mais como viver de outro jeito
Talvez não seja nada disto, seja só um jeito sem-jeito
Algo que o prenda ao chão, ainda que um chão movediço
Mesmo que o deixe à mercê de alguma loucura
alheia, ela será sua enfim e o deixará completamente imerso
entre todos os talheres naquela mesa, e aqueles ovos
quentes, fritos, em omeletes, à poché e ambrosias
ovos, ovos, ovos, ovos
Já não sabe mais quando começou a comê-los, nem se lembra
mas os comerá até sentir vertigem, até adoecer o estômago
Talvez até sangrar em úlceras
Só sabe que é dele a função de manter o motor
em movimento, pronto a dar a partida para o inferno
para o paraíso!