[não quer o viandante mais que a via]

não quer o viandante mais que a via

onde seus passos ergue em pó

recolhendo palavras

lapidando-as para a colheita

do seu próprio epitáfio

mas a via

é mais que a soma dos seus passos

tecida em dédalos de espanto

faz-se de cinza e sal

na lareira do tempo consumido

e de fogo e voo

na exacta medida do olhar

não quer o viandante mais que a via

embora nela acordem punhais

de traição

em mãos ditas de amizade

e o ombro ofertado nasça

em corpo

por si escorraçado

mas a via

é mais que o espelho ou seu reflexo

é a descoberta

da voz simples da terra

em que cada coisa cumpre

a sua própria caminhada

não quer pois o viandante

mais que a via

uma ara o aguarda

quando enfim souber

compreender

que esta reside

no templo que se ergue em seu corpo

porque é a via o viandante

e o viandante faz a via

Xavier Zarco
Enviado por Xavier Zarco em 03/10/2006
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