Perfume de rosa
Cajuzinho do sertão,
Cactinho da caatinga,
Ingazinho do cerrado,
Pinhãozinho das araucárias,
Arbustinho dos pampas,
Coqueirinho das águas salobas...
Você é todo meu jardinzinho
Colhendo as rosas e se confundindo com elas
De forma tão singela
Que não sei se o que chora é o orvalho
Ou se a ferida é pelo espinho,
Me deixando tão confusa,
Crendo ser, entre tombos,
Que a tontura é por causa dos aromas
Das flores e dos amores.
Pra abraçar-te não desloco um só dos teus entre-nós,
Enquanto os camponeses, em tua mais linda inflorescência,
Mostrando todas as tuas virtudes,
São capazes de desfazer-te num só sopro
Seja pela tua beleza, tuas cores
Ou tuas dores.
Tu sabes, rosa melada,
Que tua função é de polinizadora
Que atrai as abelhas e com elas
Me traz lembranças avermelhadas:
Em cada um dos teus gritos
Elas ficam gravadas.
Nesse meu jardim imenso,
Outras flores foram plantadas:
Rafflesias, Asimina trilobas,
Belas, mas alérgicas e com o tempo
Foram polinizadas por moscas.
Se és uma tulipa ou se tens corola bela,
Pouco posso com os olhos contemplar-te,
Mas sei que este teu pedicelo é tão frágil
Que eu queria o tempo todo segurá-lo
Não deixando que outros o entortem.
Mas se exalas teus perfumes,
Se atrais mil passarinhos
E se estonteias tantos pintores,
Continuarei a atravessar a ponte
Todas as vezes pra te enchergar
Pois tuas pétalas aqui enfeitaram
E sei que a belza aqui há de ficar.
Não te estranhes se te falo nessa linguagem
Que aos outros soa pueril,
É que nunca sentiram teu aroma
Pois se prostituem por fáceis gineceus.
És enfim toda a minha mata
E em teus olhos vejo todos os bichinhos.
Ingênuos, sinceros,
Ávidos por amores,
Eternos andarilhos desse caminho.
* Dedicado à minha prima Paula Caroline.