ALÇAPÃO

Sou artesão de gaiolas!

Deixei-me ser aprisionado

por instinto de liberdade.

O miolo do pão

embebido ao leite

guarda-me dentro de ti.

O mundo não voa com pressa

como a presa foge do carcará

abatida num só rasante

pelo zunido do vento

dentro do pensamento

como quem luta pra digerir

o predador consagrado

mastigando jiló

dentro de ti.

Sou artesão da liberdade!

Fui comedor de palha

requentei bucho e cocho

com minhocas do teu bico

de seios curtos dado à boca.

Sou artesão de filhos!

O mundo não cresceu engravidado;

primeiro, vieram pássaros,

depois, uma revoada de vento

e o ar prenho em ciscos

sangrando muriçocas

com tapas nas costas

do predador a gozar

dentro de ti.

Sou artesão de asas!

Guardei-as para o vôo da muda

do carcará cego que come em tuas mãos.