Cego

Cego

E não vejo palavra.

O que diz tua fala?

Não percebo.

Não vejo teu sentido,

Teu lado travestido

De gente que fala demais.

Cego

E não sinto quente

O quente da tua lágrima.

O calor de teus olhos

Dum quente picante

Que não percebo.

Não vejo o que vejo demais.

Cego

E não falo o que sinto

No sabor que tua mente

Mente ao meu lábio.

Que sabe à café amargo

E frio da manhã

Do dia do adeus que não dei.

Cego

E teu cheiro toca-me

Tão secamente quão rasa

É a clareza devassa

Do teu odor profundo.

E salivo minha tristeza.

E escarro um sorriso teu.

Cego

E ensurdeço meu tato

Que não vê teu cheiro

E mim.

Antonio Antunes
Enviado por Antonio Antunes em 08/10/2006
Código do texto: T259390