Cego
Cego
E não vejo palavra.
O que diz tua fala?
Não percebo.
Não vejo teu sentido,
Teu lado travestido
De gente que fala demais.
Cego
E não sinto quente
O quente da tua lágrima.
O calor de teus olhos
Dum quente picante
Que não percebo.
Não vejo o que vejo demais.
Cego
E não falo o que sinto
No sabor que tua mente
Mente ao meu lábio.
Que sabe à café amargo
E frio da manhã
Do dia do adeus que não dei.
Cego
E teu cheiro toca-me
Tão secamente quão rasa
É a clareza devassa
Do teu odor profundo.
E salivo minha tristeza.
E escarro um sorriso teu.
Cego
E ensurdeço meu tato
Que não vê teu cheiro
E mim.