Vômito
I
Quem, ou o que sou eu?
Vejo tanta gente metida
Gente que pensa ser alguém
Gente desencontrada da vida
Vida, que vida?
Príncipes e plebeus
Evangélicos, ateus
Todos têm dor de barriga
Morte. Me conforte
Se morte é mesmo vida
Senão, falta de sorte
Daquele que é suicida
Please! Um trago, um gole
Promessas de formicida
O corpo numa "caixa-forte"
A alma à deriva
O que é azar? O que é sorte?
Qual mesmo o sentido da vida?
Se nasço para logo morrer
Se vivo não há poesia?
II
Exaustão, solidão
Solitário é a pedra mais rica
Diamante que corta o vidro, so não
A redoma da egolatria
Já não sou homem, nem sou viado
Não me seduz bunda, peito ou vagina
Sou um ser assexuado
Pedra bruta que não sente nem vibra
Tempo, que tempo? Horas, minutos ou dias?
Que me importa o calendário, seja o judeu ou o do Cristo?
Meu tempo mais uma vez estancou
Nos muros erguidos pelo arrivismo
Não quero aplausos, só quero vaias
Apenas elas me sensibilizam
A arte em decadência
Somente aos estultos notabilizam
No meu trabalho já não posso ler
Querem extirpar meu vício pela leitura
Eles não podem suportar
Um funcionário que lhes tenha mais cultura