dentre coisas
Eu vejo as coisas que separam, as coisas, tantas coisas
que separam os homens dos homens
deles mesmos então
pequenas pedras, moedas
arte em nixos, outros lixos
cores ralas, palavras, cabalas
formam muros, cercas, entulho
criam tristezas, arestas
demarcam territórios, abrem frestas
por onde enxergo a vida nos mapas e suas alfândegas
Só não entendo ainda se a mania de juntar (as coisas)
em monte, montanhas, cofres, é jeito simples mesmo
de evitar a morte enquanto guardo, separo, o que é meu
do que é seu, do que é nosso, dos dos outros
que são outros
porque outras coisas os separam de nós
E como tudo o mais
vira mais um vício
impor limites à honra é honra
criar fronteiras, eiras, beiras
nomes, números
aparelhos
feiras...
Até as pontes construídas para unir, construir
desconstroem
separam os de lá dos de cá
fabricam o lado de lá e o lado de cá
Até os rios que abrigaram os homens em sua margem
passou a ser coisa, e indigesta
que corta a cidade e sabiamente insiste em misturá-la
misturando os homens e as suas doentias razões
entre ataúdes em catacumbas e cemitérios populares
Feito aparelhos ortodônticos separando dentes amarelos
Cemitérios
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