dentre coisas

Eu vejo as coisas que separam, as coisas, tantas coisas

que separam os homens dos homens

deles mesmos então

pequenas pedras, moedas

arte em nixos, outros lixos

cores ralas, palavras, cabalas

formam muros, cercas, entulho

criam tristezas, arestas

demarcam territórios, abrem frestas

por onde enxergo a vida nos mapas e suas alfândegas

Só não entendo ainda se a mania de juntar (as coisas)

em monte, montanhas, cofres, é jeito simples mesmo

de evitar a morte enquanto guardo, separo, o que é meu

do que é seu, do que é nosso, dos dos outros

que são outros

porque outras coisas os separam de nós

E como tudo o mais

vira mais um vício

impor limites à honra é honra

criar fronteiras, eiras, beiras

nomes, números

aparelhos

feiras...

Até as pontes construídas para unir, construir

desconstroem

separam os de lá dos de cá

fabricam o lado de lá e o lado de cá

Até os rios que abrigaram os homens em sua margem

passou a ser coisa, e indigesta

que corta a cidade e sabiamente insiste em misturá-la

misturando os homens e as suas doentias razões

entre ataúdes em catacumbas e cemitérios populares

Feito aparelhos ortodônticos separando dentes amarelos

Cemitérios

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Suzane Rabelo
Enviado por Suzane Rabelo em 10/11/2010
Reeditado em 26/07/2011
Código do texto: T2607015