As rosas exalam

Quem diria que num canteiro

como o que tenho em meu jardim

rosas tão belas em nevoeiro

sofrimento guardem assim.

Rosas espinhosas, envenenadas,

banhadas em sangue, em rubra cor,

que se próximas, se dadas,

me provoquem tanta dor.

O seu cheiro, tão carente,

apático de amor,

a procura de um ente,

para dar-lhe um sabor.

De despedida ou chegada,

de um começo ou um fim,

para trazer-me apaixonada

ou magoada uma alma a mim.

As rosas exalam,

nos falam de amor,

mas rosas não calam

da solidão o ardor.

Não se dão ofertadas,

pois comprá-las não se pode,

surgem-nos amadas

nos corações em seu molde.

Elas são atemporais,

nem os vermes as levam,

envelhecem jamais,

se eterna a paixão das mãos que as carregam.

Por lembrar-nos da saudade

ali, mudas, às vezes ficam,

mas nem ventos de tempestade

de nossas lembranças nos retiram.

Passam eras e gerações;

talvez até vejam meu anoitecer,

mas no menos assim nossas paixões,

as guardarão até a morte nos convencer.

E, mesmo nesse adeus,

as rosas me agradecem

pois se os momentos não mais são meus

suas pétalas me cobrem e eterno me protegem.

Vitor Barros
Enviado por Vitor Barros em 20/06/2005
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