ESPUMAS

ESPUMAS

J.B.Xavier

Ó, esteiras de luz, flores abandonadas

À fúria do oceano,

Por que nasceram, assim, espumaredos?

Por que não me levam também nestas viagens,

Nesses remansos calados e fugidios,

Nessas aventuras pelos mares, pelos rios,

Onde enfeitam os rochedos beijados pelas ondas?

Por que me deixam aqui a observar

Sua dança louca nos braços do mar?

Ó lácteas avenidas

Dirigindo-se ao infinito,

Deixem-me também ouvir os gritos

Das gaivotas,

Ou iluminar-me na lua refletida

Em suas brancas e delicadas rendas,

Deixem-me participar também das oferendas

Que tão gentilmente fazem ao sol,

Deixem-me não apenas ser o náufrago,

Mas o farol

Que pincela sua luz sobre a tela da escuridão...

Ó, fugazes existências

Espumantes,

Construídas de efêmeras intenções,

Por que não permitem que me misture

Às suas essências?

Ainda que apenas por instantes?

Deixem-me sorver um pouco dessa liberdade,

E ir além desses estreitos limites

Onde enclausuro cada um dos meus dias;

Deixem-me experimentar o universo inteiro

Navegando borbulhante de alegrias,

Para que eu não lamente, em tristes elegias,

O universo limitado desse cativeiro!

Ó pretensas musas

De requintadas efemérides,

Que coloris o mundo nas espumas do oceano,

Tornem-me parte dessa magistral aquarela,

E flutuarei pelos espaços,

Me desfazendo e me reconstruindo...

Afagarei rochedos,

Acariciarei areias

Fluindo nos caminhos do infinito

Onde estarei presente em cada tempestade,

Em cada sopro do vento, em cada pluma...

Enfeitarei meus medos

Nas delicadas rendas desse espumaredo,

E então, livre, nas correntes de espuma

Me emocionarei em cada bonança,

E transformarei esta saudade

Em alegrias de espumas de esperança...

* * *

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JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 28/01/2005
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