Arca apocaliptica

Ópera nas vidas sofridas,

silêncios desmedidos,

lamaçal em sofrimentos jamais desejados para si,

cruzes de ónix em peito do sacerdote exorcizado,

mas pecador confesso,

pensamento opaco rodeado por lótus

paridos brancos e azuis,

nascimento do sol, vida,

esconderijo dos animais fabulosos

de qualquer hércules tísico,

crocodilos alados associados ao esquecimento

imemorial do regresso à terra do nada,

escuridão do louco, boi mocho sem chifres

vagueando algures no paraíso,

nos logogrifos, charadas, enigmas constantes

na alma possuída,

nada faria parar o devaneio,

nem bailarina do ventre exposto, extasiando

entre sedas, velas vermelhas,

esse orgulho viril desencantado,

desvirginado no êxtase sôfrego de posse sexual

frenética, imparável,

ao ritmo desenfreado de tambores e citaras,

alteração do azul celeste dos puros.

Palavras soltas a cada cigarro acesso

mortalhas fumegantes queimando dedos amarelados

das nicotinas engolidas,

então a terra tremeu, o mar tudo reconquistou

no repente,

restou uma velha arca apocalíptica,

a boiar,

e um grito.

( o que Billy Idol e L.A.Woman terão a ver com a arca apocalíptica? Talvez o grito...)