Quero ser gato!

Quero ser gato

Caminhar tranqüilamente

por ruas e becos escuros

nas mais tenebrosas e

também nas belas noites enluaradas

Andar em muros e telhados

Entrar e sair das casas

sem convite e nem adeus

Caminhar no meio fio

Cruzar avenidas

Me arriscar

Quero ser gato

Me embriagar com cheiro, sons, sabores

Enroscar meu corpo em outro

na luta erótica comum aos felinos

Sair à caça, agarrar a presa

e me deliciar, sem pena ou remorso

Depois, voltar pra casa

Dormir sem pressa

enquanto o dia surge

e todos aqueles homens e mulheres

dão início à sua mórbida rotina

Quero ser gato

Ao menor barulho

Abrir os olhos, mas só um pouco

Em segurança, virar de lado com preguiça

E, num breve suspiro,

pegar novamente no sono

E assim passar o dia

Entre cochilos, refeições e brincadeiras

Ao cair da tarde,

voltar a passear tranqüilamente pelas ruas

e reiniciar a mais alucinante

e invejável rotina de um ser vivente

Ah, como quero ser gato!

(Campinas, abril de 2004)

Michele da Costa
Enviado por Michele da Costa em 13/10/2006
Código do texto: T263663