Quero ser gato!
Quero ser gato
Caminhar tranqüilamente
por ruas e becos escuros
nas mais tenebrosas e
também nas belas noites enluaradas
Andar em muros e telhados
Entrar e sair das casas
sem convite e nem adeus
Caminhar no meio fio
Cruzar avenidas
Me arriscar
Quero ser gato
Me embriagar com cheiro, sons, sabores
Enroscar meu corpo em outro
na luta erótica comum aos felinos
Sair à caça, agarrar a presa
e me deliciar, sem pena ou remorso
Depois, voltar pra casa
Dormir sem pressa
enquanto o dia surge
e todos aqueles homens e mulheres
dão início à sua mórbida rotina
Quero ser gato
Ao menor barulho
Abrir os olhos, mas só um pouco
Em segurança, virar de lado com preguiça
E, num breve suspiro,
pegar novamente no sono
E assim passar o dia
Entre cochilos, refeições e brincadeiras
Ao cair da tarde,
voltar a passear tranqüilamente pelas ruas
e reiniciar a mais alucinante
e invejável rotina de um ser vivente
Ah, como quero ser gato!
(Campinas, abril de 2004)