DOIS IRMÃOS
DOIS IRMÃOS
Fez-se noite no dia,
brota a agonia na ironia ao longo das hierográficas ruas que se estendem até a lua de sangue.
Ventania... e geográficos arbustos ondulam em sombras desalinhadas desenhadas nas calçadas.
Os meus olhos buscam hierofanias aladas,
alguma luminosidade em qualquer canto do bairro, da cidade: somente escuridades.
Crescente ansiedade de religiosidade em meio a tantas imagens,
e o eterno travar de batalhas ,
lá vai o taciturno brigando com as palavras.
Ah, ao longe, avisto uma lua dourada!
Logo traço o vôo até a rua amarelada.
Tapete mágico?! Anunciação da nova aurora?! Tapete de Nossa Senhora?!
Flanando e me aproximando...
Ainda ouço os últimos ruídos, grunhidos, gemidos...
Golpe de vista,
tapete trágico!
Como formular a denúncia?!
Ironia,
a passarela amarela é madeira esfarelada,
num canto, a motosserra abandonada,
saturada de culpa por ação humana.
Oração aos dois irmãos,
um inumano coração desconectou da seiva viva, da terra,
as folhas e os troncos do destruído quadro divino;
dois flamboyants, antes de floração vermelho fulgurante, rubro ... ambos ao chão.
Cubro o rosto com as mãos,
dói meu coração.
E o horizonte resplandece insano, profano...
Prof.Dr. Sílvio Medeiros
Campinas, é verão de 2010.