DECANTAÇÃO - POEMA 80

EU QUERIA UM MAR DE OURO

PEIXES DE DIAMANTES NADANDO NA PALMA DA MÃO

DECANTANDO-ME OS SEGREDOS DA VIDA

E DA ILUSÃO.

SEPARANDO DAS TORMENTAS, A FELICIDADE

DAS FERIDAS , O VOO DOS DOCES PASSAROS.

MAS NADA DISSO TENHO. TENHO ÓCULOS MAGROS.

NESTE SECULO XXI, TAMBÉM A EXISTENCIA É FEIA.

NÃO DESEJA ESQUECER-ME!

EIS A ME APODRECER-ME

E TU, A NÃO QUERER-ME MAIS, A ELA PEÇO.

ANGUSTIA ! DURMA NO PORTO ESTA NOITE

DÊ SOSSEGO A MINHA ALMA TÃO FEIA E ROTA

PUXE PROSA COM OS BARCOS! DEIXE-ME !

CHAME AS GAIVOTAS E CANTE ! ESCREVAS !!!!

E TE PEÇO, ESQUEÇA-ME!!!!

ANGÚSITA ! DEIXE-ME SÓ A MORRER-ME

AINDA QUE SÓ POR HOJE, OU SOMENTE ESTA NOITE

DEIXE-ME A SONHAR COM A GEOMETRIA

LIBERTO DO MUNDO, DO AMOR E DE TI , ALMA

ALMA NOVA E VAGA !

QUERO NESTA NOITE FINAL, SER ME OUTRO

VOLTAR OAS OUTROS QUE FUI NÃO SENDO EU

ALVARO, CAMPOS, REIS, CAIEIRO

ANGUSTIA DEIXAI-ME. CANTE OU MORRA.

DEIXAI ME FELIZ A ENSAIAR A MINHA PARTIDA.

SÓ OS DEUSES PODEM PARTIR ABRUPTAMENTE.

MAURICIO DE AZEVEDO

METEMPSICOSES - A ALMA DE FERNANDO PESSOA

POEMA 80