No relâmpago dos olhos fechados
Sentado nu no meio de lençóis desalinhados
olhava infinitos azuis,
horizontes ao alcance de um esticar de braço,
uma rouca harmónica invadia silêncios
enquanto o cigarro queimava devagar,
tudo antecedia o sonho acordado,
num relâmpago dos olhos fechados
entrou fulminante no beijo lembrado,
as roupas evaporadas na magia do abraço forte,
longo,
demasiado duradoiro
sentindo pele invadida pela carícia,
violação imparável de desejos escondidos,
jamais revelados nas ânsias eternas,
na rapidez de um cometa sentiu
desfazer o gelo em partículas de cosmos
misturado com pó de estrelas desconhecidas,
luminosidade única da loucura
como vozes da floresta centenária explodindo
abraçando com seus galhos
amantes conhecidos
no simples arfar que aumentava sem parar,
de par em par,
mar revoltado encabrestado
vulcão em erupção afundando
ilha deserta,
naqueles gritos uníssonos.
Ainda viu um pássaro que teimava
pousar num qualquer galho,
um beija flor tocando de leve hortênsia lilás,
depois,
refugiou o corpo em concha
abraçando porto de partida,
temendo
o fim do reencontro.
Apenas Bob Dylan “Love Minus Zero/No limit” em The Concert for Bangladesh George Harrison & friends)