Deusa da alvorada brilhante
Tanta ideia perdida nas memórias
de saudade daqueles nadas passados,
alguns obscuros mesmo, sempre eróticos
esperando em ar-Ribat
o som da queda de água formidável desaparecida
pela manta do orvalho,
mantras recitados ouvindo anahata,
chacra inviolado,
aberto com olhos fechados,
linguagem de sábios, no cheiro a açafrão, canela,
olhando o mar parado como prenúncio
de todas as tempestades,
senti o teu perfume na dança do ventre
em supremo adágio, cânfora divina
no batuque escravo aumentando de ritmo,
suor caindo como perpétuas chuvas
conhecendo a aventura de menina
que um dia partiu,
pariu,
aventuras de desamores pernoitados
em tântricos movimentos,
rápidos e delicados
como o pó do caminho
procura recolhimento absoluto,
a outra fase de Febe
na febre de descoberta superior
como magia de abracadabra alquímico
num cálice de madeira dos tempos afastados
de corpo e sangue alimentando sacrifício inútil.
Quis assim a encruzilhada escolhida
que te conhecesse no olho do furacão,
relâmpagos sucessivos quase loucos,
desejos, ânsias, rapidez de cometa absorvendo,
crescendo mais que carvalho milenar
no cosmos em expansão,
querias te assim deusa da alvorada
brilhante,
anunciando outras rotas a navegantes gastos, cansados
como se Vénus estrela fosse,
e,
no reencontro de ti,
agarrada a uma nuvem
partilhaste o teu sonho de mulher,
finalmente.