Miséria

Não há nada a não ser miséria, não miséria material, mas sim espiritual. Como se fosse um leproso a pedir por esmola pouca, sentado à sarjeta imunda e os trapos a servir de abrigo contra a natureza, eu sou a própria miséria, a esgueirar-se pela penumbra, longe dos olhares sádicos das grandes majestades.

Fragmentos extirpados de um corpo, agonizando abaixo do sol do meio dia, exalando a pútrida sensação de imobilidade, de vencido defronte ao caos criado por ternos caros comprados ainda ontem.

Olhos intumescidos vagando pelo breu da noite, inevitavelmente só enxergam o cáustico que me acomete à miséria. Sem medo não há derrota que me fira, mas prefiro o vão lúgubre que me aceita e me protege em sua frivolidade.

Há um profundo poço em minha alma e lá no fundo, longe do alcance de baldes e algozes, eu me deleito com o pouco do amor que ainda me resta.

Juliano Rossin
Enviado por Juliano Rossin em 17/10/2006
Reeditado em 14/11/2008
Código do texto: T266456