Nunca diga

A ausência do que falar confronta com a angústia da mudez

Essa mudez ensurdecedora que teima em estourar meus tímpanos

Quero falar

Não quero dizer

Não quero ser ouvido

Quero falar

“Falar” é farto de rastros invisíveis pela visão

O dizer sempre é traído pela audição

A fala

Esta sim está sofrendo

Na sua claustrofobia rotineira

Presa entre as costelas e o fígado

Rasgando os ligamentos entre todas as células

Num mundo, qualquer, inexplorado.

Quero falar

Não quero dizer

Não quero palavras

Danem-se os verbos, propósitos e méritos.

Eu não quero querer

Eu não quero não querer

Não sei o que quero, eu.

Quero uma frase grande

Agora vou falar tudo aquilo que dizem, quando na verdade deveriam estar falando:

Eu quero falar!

Rafael S P Valle
Enviado por Rafael S P Valle em 18/10/2006
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