Vendilhões num templo barato
Sem interesse, alma sequer
como fingidos poetas travestidos
de inspiração,
repetidores de sentimentos alheios
papagaios das letras,
desconhecendo choro de puta velha,
gasta por noites sofridas
de chulos cantando em ouvido mouco,
abutres dançando sobre cadáveres,
altivos em elogios de prostitutos
satisfazendo vícios podres, fétidos,
numa qualquer rua deserta, suja,
sem dor numa alma
pária, cobarde,
nem olhar indiferenciado, um nada
desgraçado de vidas fúteis
ociosas,
nadas desinteressantes para contar
em rima,
como se ela existisse sem sentimento,
vendilhões num templo barato
onde falso perfume impregna o ar
desejoso de furacão purificador,
vómitos
transformados em ais sentidos,
ridículas ejaculações.
Hoje acordei-me negando
o som do mar distante,
explosão de terra em vulcão expulsando
fantasmas,
cavaleiros apocalípticos devassando
virgens almas,
apenas quero,
se quero,
sentir o cantar do rouxinol.