Nossas mãos, então...

Sentado no cais baloiçando os pés,

perto do vai vem da salgada espuma

indolente

indiferente,

num ponto fixo não muito perto da queda abrupta

de todas as águas, bebendo

cerveja já quente

álcool em cascata

entranhando se suave, rapidamente

no quente sangue,

erupção selvática

vulcão moribundo

lembranças fugidias de outras viagens

muitas paragens,

noites aquecidas por corpos

apaixonados

vibrantes

em lençóis de cetim, sombras, velas derretendo,

incensos fumegando,

choros inacabados de despedidas esquecidas

num virar de costas,

negação do querer sentir

alma aprisionada

em fuga,

fugas constantes apenas por uma palavra,

não me quero revelar, despir

soltando a pele, os ossos,

entranhas sofridas

em recordações

querendo sair

livres a cada ai profundo

por toques apaixonados de desejos,

tantos caminhos julgados finais,

fechei uma das garrafas

onde um papel escrito deixei,

lançada

ainda baloiçou suspensa na flutuação calma,

destino desconhecido por fim.

"Um dia, nesta saudade,

superados mares, marés, profundezas,

abismos,

ficarei apenas

olhando nadas, tudos imortais,

contigo,

nossas mãos,

então,

ficarão entrelaçadas

no sempre.”