Afinal cresci…. um pouco mais

Gritos insatisfeitos soprados ao vento

ecos desconhecidos sem vestígios

da língua decepada por trovões,

nem sangue como prova

das frases pensadas apenas,

nunca sussurradas nas noites de paixões,

labirintos limitados

por sebes verdes,

esperança em atingir o barco

que te levava,

velas em arco

como se uma seta disparada

para bem longe do meu coração

acertasse em cheio num breve

relâmpago escuro

pelo fundo deste mar,

buraco negro no universo longínquo,

borboleta sem bater de asas.

Na estrada que recomeçara

sorri de mim,

afinal cresci,

um pouco mais.

Relembrei uma Mulher única que um dia conheci, sim, e que escrevia assim:

"Não se perdeu nenhuma coisa em mim

Não se perdeu nenhuma coisa em mim.

Continuam as noites e os poentes

Que escorreram na casa e no jardim,

Continuam as vozes diferentes

Que intactas no meu ser estão suspensas.

Trago o terror e trago a claridade,

E através de todas as presenças

Caminho para a única unidade."

Obrigado Sophia de Mello Breyner Andresen