POEMA VII - FRAGMENTOS

I

Arrastam-se pesadas nuvens;

Relâmpagos iluminam o velho horizonte,

sopra o vento arrastando as folhas,

balança os cabelos brancos

da velha calada,

logo, cheiro de poeira molhada,

a cidade se apaga,

mergulha na escuridão imensa -

caem as primeiras gotas,

outras mais, enfim, milhares…

“Dissolvem-se as nuvens negras

banhando a terra, (…)”

II

Penso em minha mãe…

- E cai a chuva!

Penso na menina carinhosa…

- E cai a chuva!

Penso no meu pai…

- E cai a chuva!

“Passam os segundos, as horas…

- E cai a chuva!

A velha chora sozinha…

- E cai a chuva!

Vitórias e derrotas:

A vida é mesmo estranha… (?)

- E cai a chuva!

Chove sem parar…

- E cai a chuva!

Uiva o vento irado…

(Choros, mortes, prejuízos…)

- Desaba a chuva!

Lá fora há escuridão,

- Lá fora há chuva!

Tento chorar, o nó na garganta aperta -

não consigo…

- Cai a chuva!

Hoje é domingo, -

não!, ontem era domingo,

já seguem duas horas

do novo dia, -

já é segunda…

- Chove, chove sem parar!

Os relâmpagos iluminam meu quarto,

o estrondo dos trovões ecoam nas alturas…

- E cai a chuva!

Penso nas pessoas enfermas

nos leitos dos hospitais;

Penso nas pessoas sem teto

vagando sob a escuridão…

- E - c-a-i - a - c-h-u-v-a-!

Três horas, quatro,

adormeço…

Lento desponta o grande astro,

sua imensa luz penetra suavemente

invadindo o meu quarto,

aquecendo a minha face…

- A chuva passou!… (?)

É segunda-feira, a vida passa,

o tempo passa, a vida passa!…

A vida tem sentido:

- Quando existe amor!

O casamento não desaba:

- Quando existe amor! (De ambos os lados!)

Por que escrever sobre isso em plena segunda?

Porque qualquer dia é um bom dia para escrever,

- Quando existe amor!

“Sei que o amor é qual um fantasma,

todos o comentam, mas poucos o sentiram…”

Porém se alguns sentiram,

logo, existe!

Hoje é segunda-feira

dia quinze de setembro,

doze horas, quarenta minutos,

mil novecentos e noventa e sete…

Falei sobre o sol, mas não há sol

neste dia, falei sobre o sol

só para animar-me;

Porque lá fora há chuva…

- E cai a chuva!

Centenas de palavras

ecoam em minha mente…

- E cai a chuva!

o tempo escorre

qual a água pela guia…

III

Respiro.

Sigo escrevendo esse poema;

Penso na vida, na morte,

no azar, na sorte…

Aprendi com a dor,

a dar valor a saúde…

Aprendi com tempo,

a ter paciência…

Aprendi que o mundo

não é só de espinhos, -

o mundo, também

é feito de rosas!

IV

O leão ruge nas matas…

- Coragem!

O veado foge desesperado…

- Medo!

Os rios correm para o mar

que nunca se enche…

O vento segue para o sul

e retorna ao norte

completando seu ciclo,

- Equilíbrio!

O furacão ronca na eira:

- Desequilíbrio!

V

O sol nasce - se põe,

o sábado termina;

passa o domingo;

chega segunda…

- O tempo passa!

O macaco pula pela história… (?)

- O tempo passa!

Navega os sete mares…

- O tempo passa!

Divide átomos…

- O tempo passa!

Computadores, raio “laser”…

- O tempo passa!

(A origem do homem se perde nas sombras do tempo!)

VI

Ah!

Bato com a cabeça no velho espelho

fraguimentando minha imagem…

(Será o espelho que esta estilhaçado,

ou será que sou eu?

Os pedaços pelo chão,

ah! velho espelho, você que é testemunha

de tantos anos de minha existência,

que me refletiu feliz, -

me refletiu triste…

Agora estou aqui preso a mim mesmo!

Observo os pedaços do espelho,

vejo minha imagem espedaçada,

mais uma vez o espelho

reflete minha realidade…

Volto à razão e ouço

o som dos pingos na telha de “eternit”…

- E cai a chuva!

Há gemidos;

Há ganidos…

Lá fora não há nada de novo!

Mas, o que há do outro lado?

Há outra realidade

do outro lado, do espelho,

de mim, da existência…

VII

A vida é estranha,

cercada de mistérios…

Caminhos, tantos!

- E cai a chuva!

Navego envolto em mistério…

Mário Vigna
Enviado por Mário Vigna em 19/10/2006
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