SONATA À LÁ MAIOR

tua barriga,

entre seios e umbigo,

à la travesseiro,

no meu rosto

respira como se o silêncio não tivesse hora

para o último acorde da sinfônica

transversa,

à la travesseiro,

com duas mãos vindas, sei lá de que céu,

acarinha-me num sobe-e-desce

aos suspiros definitivos

dos meus cabelos

emaranhados pelos apelos do teu ventre

que crescem rápidos

[definitivos]

assim como tua barriga irrecuperável

entre seios e umbigo,

à la travesseiros

sem princípios,

a deixar meus olhos despertos

até o final do concerto ou do baile

conscientes de que a nota é o princípio do princípio

transverso,

como uma régua em “T” de pernas compridas,

atravesso o salão vazio

cheirando a sarro das pontas dos cigarro

e a tonturas dos Cubas-Libres;

irrequieto,

provo teus doces papos-de-anjo e tuas coxinhas salgadas

para viagem, no farnel

quase completo,

puxado pelas mãos que, agora sei, vindas do teu céu,

e beijo a primeira Nossa Senhora da Esquina

[na boca]

Um santinho com salmos,

de cara bem parecida com a minha,

reflete minha face

[agora vista]

tanto pelos teus olhos quanto pela tua boca

que me respira

sem nenhuma ânsia presente,

enquanto tua língua, em fogo, molhada,

batiza minha testa,

tranças pernas crucificadas;

redeito

entre teu umbigo e seios

com a minha cabeça

à la travesseiros

estufados.

E depois de tamanha barriga,

voltarei a recostar dando voltas em teu umbigo

noutra noite de gala, só

quando música e orquestra forem extremamente necessárias,

assim como barriga e ouvidos são complementares.