Afinal, apenas quero uma linha

Queria uma linha irreal

fina como seda,

metamorfose dos bichos,

estrada invisível

até águas-marinhas sepultadas,

bastava um filamento de teia

onde viúva-negra se alimenta

do macho após cópula,

despojo sem remorso

pesar,

o fio da equilibrista cega servia,

dançarina clássica

ao som da flauta de euterpe,

suspensa,

em pontas

no fino arame escorregadio,

risco de giz

até ao cume do arco-íris,

podendo escorregar pelas cores

na vertiginosa velocidade

obsessiva de poetas futuristas,

queria apenas a linha

sem distância visível,

até ao zénite

da liberdade

no silencioso olho do furacão,

mirando sem paixão,

a rebelião das cores

de violetas

e amores-perfeitos,

afinal,

apenas quero uma linha

fuga de mim.