Interlúdio de Overdose

eu consumo poesia como se fosse droga.

ávido, as pupilas trêmulas

até

ahhhh

se dilatarem

um pico

um trago

um gole

cada verso um cheiro diferente

as cores, os sentimentos, a tremedeira, o frio do sofrimento de cada poeta

o sangue quente o torpor os dedos a risada, haha, cada cena cada

[choro

(um medo horrível de nunca mais aquela sensação acabar -

a poesia eterna - Senhor me salve!)

o suor, o cansaço, a solidão, a alegria, as letras desaparecendo da

[tela

e indo direto pra cabeça, pro estômago vazio

as palavras saindo daquele mundo de sei lá onde e indo direto pra ideia.

ffffffffff

e quando acaba

quando acaba uma poesia tão boa eu tenho vontade de morrer

meu mundo é esse: o mundo de sonho onde tudo é possível.

fora do mundo da arte da imaginação eu quero estourar minha

[cabeça

ela mesma parece querer se estourar de dor.

e eu preciso de mais uma, mais uma, mais uma, mais uma, mais uma

me reviro na cama, urro, choro, grito até explodir o peito

uma tosse maldita, um vômito do lado da cama, um suor, uma fraqueza

mas eu só preciso de mais um poema

mais um

mais um

mais um

mais um

mais um

até morrer, até a última sarjeta

dá mais um poema aí caralho só mais um