Hoje acordei o teu negativo negado...

Solidão,

saturação de mim,

mesmo com a mão tremendo em delírios

não escritos

extraordinários sonhos ao acaso

no tempo,

impotentes margens sem controlar rios,

aprisionar

a lava de águas ininterruptas sem destino

incontroláveis eus,

olhar enquanto molho o pão no prato

objecto da traição

rápida, fulminante,

palavra estranha eu

centro de universos meus, onde só,

habito,

amor, paixão, fala, palavra,

tudo imagino,

meu sonho é a realidade,

meu desejo é só meu,

não partilho, fico olhando de frente a espelho

bebendo em saúdes seguidas de arrotos,

vómitos,

música só minha, só apenas,

tudo partindo esperanças vãs,

cartas escritas logo rasgadas sem respostas

sequer enviadas,

desejando algo porco, bem sujo, ordinário

como putas da estrada sentadas em cadeiras

quebradas de pernas abertas,

no meio de mato escuro,

não quero ser lido,

compreendido,

expressar as outras dores,

nunca a minha

como um qualquer barrabás libertado,

embriagado, adormecido

debaixo de cruz colonial

mortal, rei da nova aurora,

no acordar…..quero possuir,

cobrir,

no que me transformei,

resistirei,

enganem se não renasci,

morri

regressando ao ventre

de uma mulher qualquer sem choro,

cita as palavras

cita as,

hoje acordei o teu negativo negado…