OPOETA E A CIDADE 26
Cantei pra vida o tédio,
Fiz desde tinta dessas molduras
Na qual criei.
Estranho!
Sempre fui amado.
Tenho família.
Tenho amigos.
E sou tão só.
Em mim houve tantas flores,
Que as cores sempre mim foram nítida.
Embora as primaveras não me fossem percebidas,
Sempre houve um sol.
Esse janeiro pré-carnaval.
Esse salgadinho em frevo.
Eu fui todos os festejos,
Igreja vazia,
Escadaria de romaria,
Alta sem devoção
Sem santo,
Sem capelão.
Missa de ilusão.
Fui completo na solidão.
Mas, o eu.
Esse fora de espaço,
Esse doido de verdade.
Esse poeta puro,
Embora pobre poeta.
Viveu do tédio,
Fez do tédio canção.
Deu-se ao tédio tão completamente,
Que se viu contemporâneo,
Viu-se maquina,
Viu-se pratico,
Portátil,
Só na invasão.
Viu- se em salgadinho,
Como ladrão.