A alvorada demorava a aparecer

A guitarra

soava em lugar nenhum sem ritmo,

abriu os olhos quando o piano martelou angústia

muita

escuridão, fumo em redor

mulheres conversando em sussurros

arriscando discursos

curtos,

sonolento içou-se,

desgostoso do quotidiano suportado,

arrastou o corpo olhando

de frente porta imaginária aberta,

caos

na rua deserta, suja, porca,

escura,

suportada sem horizonte

na recordação de silêncios longínquos,

chovia

cada gota ultrapassava pele

já gasta, enrugada, suada,

balões vermelhos voavam sem destino,

insatisfeito,

cigarro

molhado, cuspido, desfeito,

nadas desanimados, jamais amados,

ida até limite inimaginável sem regresso,

loucura

reconciliada despojada de choro

insignificante sem lágrimas,

soluço de nada querer saber,

acordar

de pesadelo onde hortênsia lilás

beijava beija flor tímido

engolindo bico pontiagudo

ainda

levantou os braços bem esticados,

esperando comiseração

antes de se deitar no passeio molhado

a

alvorada demorava a aparecer,

o reinicio também.