UNIÃO PERFEITA

Olhando o mar ao cair da noite

Vislumbro lá longe, lá muito longe

Uma mal definida silhueta afoite

Toda envolta em hábito de monge

Avança sobre mim, ligeira, temerária

E cresce, e vai ficando mais definida

Oh! Imponente alada figura lendária

Que venceu a morte voltando à vida

Tanto se aproxima e engrandece

Essa tal figura misteriosa e altiva

Que meu corpo frágil estremece

E a aura que a envolve me cativa

Envolve-me de penumbra o seu manto

Para logo sentir o mundo de escuridão

Qual ser vagueando em campo santo

Cadavérica, tétrica, vil, mas boa ilusão

E envoltos nesse mundo de magia

Formamos um só ser, uma só vida

Calmante simbiose, orgâsmica orgia

Em que a mágoa e a dor é esquecida

Deixo-me envolver pelos estertores

Dessa união silenciosa, desse coito

Assim adormeço realizado de amores

Nos braços da silhueta que é a noite

1975

João Guerreiro
Enviado por João Guerreiro em 29/12/2010
Código do texto: T2697183
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