Urano

Urano

A William Herschel, J. Elliot, T. Dunham e D. Mink

“Que som é esse que alto pulsa no espaço?” T.S. Eliot, Wasteland.

“O que pode ser esta embriaguez do amor, já tão poderosa em seu estado natural, quando está encerrada em outra embriaguez, como o Sol dentro de um Sol?” Baudelaire, Paraísos Artificiais.

“do CAOS / o COSMO / da crisálida a / borboleta-dragão / um leque íris / de alas fremente / ventarola // por um minuto / pleniluz” Haroldo de Campos, Signantia Quase Coelum.

“Tem mais não”. Mário de Andrade, Macunaíma.

No antes do existir o depois,

No quando não havia tempo

Urano gerado pela Terra

Da Terra gerada para haver o Céu da Terra

No primeiro amor edipiano

Urano uniu-se à Gaia

Na mais ingaia ciência...

No antes de existir o depois,

No quando não havia tempo

Nem quando havia leis

Que não fossem as leis do sem espaço nem tempo

Urano reinou gerando filhos

Da mais ingaia ciência

Da mais rebelde geração...

Os Hecatônquiros

Coto, Briareu, Egeon!

De 100 braços e 50 cabeças...

Tantos braços para pegar tudo no mais desconforme caos

De cometas, planetas, asteróides,

pó-de-estrelas fumegantes....

Tantas cabeças numa auto-assembléia de contradições

Na desconformidade dos planos e intenções do Caos...

Os Titãs

Oceano, Ceos, Crio, Jápeto, Hiperião e Cronos!

Que renascem assim que morrem

Na flutuação das partículas no vácuo...

Tão gigantes quanto seus irmãos Hecatônquiros,

Encerrados nas profundezas da Terra,

Nascidos, porém, revertidos ao profundo da origem ctônica...

Gaia

Forjou do próprio seio o aço

Com que se fez a cimitarra,

Foice com que Cronos castrou o pai...

Revolta da geração de filhos!

Conflito de gerações...

Não sabendo outra ciência

Do que a de criar continuamente

Urano, por instinto, não sei, ou por hábito inconsciente,

Toda Noite na continuidade do Tempo que passou a existir

Se deita sobre a mãe amante

Na busca contínua e constante

De criar mais filhos,

Agora, diletos,

Para recriar o tempo do antes

Para vencer o tempo...

Suponho que tais sejam os poetas!

Do sangue do pai caído sobre a Terra

Surgiram as Melíades, as Erínias, os Gigantes!

Dos testículos jogados às águas do mar

Nasceu Astarté-Ishtar-Vênus-Afrodite-Iemanjá-Nossa Senhora dos Navegantes!

Urano: O Pai da Criação!

Castrado pelo tempo, Cronos-Saturno!

Assim, sempre dizemos:

Poesia?!

Não temos tempo!

Não temos tempo para essa inútil invenção!

(Porto Seguro, 22/04/...)

Jayro Luna
Enviado por Jayro Luna em 21/10/2006
Reeditado em 21/10/2006
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