À sombra do taperebá.
Lembro-me da tarde...
O véu de nuvens deitava na linha do horizonte,
Sob o sol temperado a formar desenhos sem nome.
Enquanto a imaginação seguia a inocência,
Os pássaros abrigavam momentaneamente seu cansaço
Nos longos braços daquela árvore frondosa por detrás do banheiro.
Tão cheia de vida,
Que no dia a dia crescia,
Ditando no coração de uns, medo.
E de outros, alegria.
Nesse ir e vir,
Nesse fanatismo,
Nesse pragmatismo...
Quando a noite caia sobre as casas,
Muito se discutia sobre aquela árvore.
Por mais que de dia abrigasse as crianças brincando sob sua sombra;
Por mais que de dia suavizasse o calor;
Em dias,quando a chuva se excedia a fazê-lo dançar em descomedida euforia,
A poesia envolta começava agradável, passava por drama, drama que era terror.
Depois dos temporais, ele estava ali...
Majestoso, protetor das vidas que ali o habitavam.
Sua altura ensejava naturalmente a favor da vida,
Era como se abrigasse n’ alma toda luz e sabedoria,
Por isso ao fim de cada tarde havia uma sinfonia harmônica,
Uma festa de pássaros num único tom – a felicidade.
Embora falassem barbaridades às crianças não enxergavam perigo,
Não havia maldade.
Embora os adultos dramatizassem não havia necessidade.
Só o olhar atento da cidade.
Embalados pelos sins e nãos,
Foi com dor no coração,
Que viu se o fim daquela ilha da selva na vila.
Aos pedaços caiam seus braços...
Sanguinários homens e mulheres festejavam.
Sem se quer se incomodarem com o barulho ensurdecedor da serra impiedosa,
Que calava a força a mais alta e bela
Árvore de taperebá daquele lugar.
Tudo consumado...
Ninguém dizia nada, mas naquele lugar a saudade parafraseava o que viria no futuro.
Não havia mais a linha do horizonte, não havia mais a sombra,
As crianças ficaram infelizes, as senhoras reclamavam do silêncio mórbido e do calor,
Os homens de cabeça baixa por causa do sol nem se deram conta quando as casa foram demolidas para dar lugar ao edifício Afonso I.