REMINESCÊNCIAS

De tudo quanto o tempo cessa:

O labor da clorofila nas folhas

Ressequidas de uma violeteira

Esquecida no parapeito da janela

De tudo quanto o tempo apaga:

Sob o signo do fogo a vela

Que rompia a escuridão da sala

O sol, que amarrado à crista do dia

Se consumia, para em seu turno

Ver surgir a noite acompanhada

Por estrelas cristalizadas na

Geometria infinita do espaço

De tudo quanto o tempo constrói:

A cidade em perspectivas verticais

Entre o intervalo de prédios avistava-se

Uma nuvem contra a qual se chocava

O vôo solitário de um pássaro negro

De tudo quanto o tempo cala:

Na mão fechada um gesto contido de adeus

A palavra sepultada na comissura dos lábios

Um verso ermo de sentidos

Calcificado na solidão dos ventos

* * *

Goiânia, 22 de outubro de 2006

Glauber Ramos
Enviado por Glauber Ramos em 22/10/2006
Reeditado em 22/10/2006
Código do texto: T270974