COVARDIA
Em silêncio me escondo no quarto.
Não tolero o barulho da rua:
as buzinas... o povão... as mãos nuas
dos mendigos coçando as feridas
a clamarem por cama e comida,
que não quero ou não posso pagar-lhes.
Tenho medo da sanha que impele
essa gente que empurra, que fere,
e que faz do ingênuo operário
um feitor, um mesquinho usurário
que exorbita, que brada, que grita,
como fosse o Senhor do seu Mestre.
Não! Eu não quero misturar-me
à gentalha - sou covarde.
Toca a marcha insana História:
não terei galardões "in memorian".