Palavras

A paz falsa encoberta por palavras

palavras que apaziguam, dignificam,

aquelas que lavam e purificam.

palavras que ficam e tu me encravas

escondidas, encarnadas, camufladas;

brandas, suaves, pesadas e macabras.

Sou um livro, um pergaminho

palavras nutrem minha alma

me dão esperança e calma

para voltar ao meu caminho

rumos negros como mim mesmo

só sei ferir-me próprio, a esmo.

Palavras nascem num riacho

rumarei onde forem elas

se por avenidas ou vielas

se em alto-mar ou em regato

andarei mais, andarei em terra

gritarei como bicho que berra.

Não me abra como a qualquer livro

sou encanto do mórbido... distante

não me queiras por mínimo instante

pois em fazer o mal, não me privo

não acredito em palavras... escrevo

tudo que com meu tato percebo.

Henrique Rodrigues Soares - Sociedade dos Eremitas