Tão frio como o olhar de Candy Darling

Antes da parada fulminante, pensei:

Se eu morrer agora, quem cuidará de meus quadros?

Quem apagará os meus rastros?

Quem eliminará todos os ratos?

Os mesmos ratos que, por anos

Frequentaram minha casa e cearam comigo

Tomaram meu vinho, comeram meu queijo e me abandonaram pelo caminho

Eis que, uma dor aguda tomou o meu corpo e passou...

... Morrer não é tão doloroso, afinal

E, vejo novamente os ratos que voltaram...

... Estão todos aqui me olhando e participando solenemente do meu funeral

Agora, sou um espírito!

Sinto-me como tal...

Leve, como um sonho livre e concluo

Que, por muito tempo fui uma realidade congelada

Como o olhar de Candy Darling naquela capa de 2005.

Mas, pelo menos durante algum tempo, com afinco

Havia espaço para contestações e curiosidades

Minha vida sempre foi de questionamentos e pertinácia

Não agradar a primeira vista era minha eficácia.

De pé, no cemitério, ouvindo o cantar de um único pássaro

Vejo as pessoas especializadas me enterrarem

Com certeza foram pagas para esse serviço

E, já estão totalmente acostumadas com isso.

É uma manhã nublada e brilhante

Nunca tinha visto uma assim antes

E, sinto-me tão livre como a luz

Caminhando por uma via que me conduz...

À tão aguardada região celestial

Finalmente, agradeço a Deus e estou livre!

Abandonei o meu corpo de maneira natural

E, em breve, não mais haverá aquela imunda forma carnal.

*Homenagem a "Antony and the Johnsons" e o álbum: "I Am A Bird Now" (2005)

Marciano James
Enviado por Marciano James em 13/01/2011
Reeditado em 20/11/2014
Código do texto: T2726457
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