DAS PALAVRAS

Palavras são sagradas, gestadas

na alma do povo e arrebatadas.

Mesmo sós, contam histórias.

Palavras são aves migratórias.

Não há sombras que elas não corram

à procura da luz antes que morram.

Palavras são nobres ciganas...

Entre nós, tecem filigranas.

Palavras, solitárias luas:

soltas ao léu, passeiam nuas.

Palavras pensadas, verdes no pé.

Faladas bailam com a maré.

Palavras escritas mutantes

ao sabor do entender do leitor.

Palavras sempre gestantes

medram livres do seu autor.

Há palavras que nos beijam;

e outras há que nos mordem.

Palavras são puro cristal;

algumas ferem como punhal.

Palavras, bolhas de sabão,

um leve sopro e não mais estão.

Palavras são feitas de vento,

logo ao vento retornarão.

Entre o gume do olhar e a tela branca,

as palavras amadurecem na boca

e a mão resume, em fúria louca,

o que a memória não ousa apagar.

No limiar do silêncio as palavras luzem,

signos perfeitos da vida vivida.

Uma a uma ao poeta seduzem...

uns versos nascem sob medida.

Há palavras sob palavras, cacos de gente.

Quem as lê ou escuta, recolhe os fragmentos.

E dos momentos que não viveu, alguém

desfruta, faz a vida seguir em frente...

Lina Meirelles

Rio, 18.01.11