O velório dos fetos.

Sorte dos fetos velados,

não terão destruídos os sonhos próprios.

Dormem sem terem acordado,

desconhecerão desonras, ultrajes, opróbrios...

Sorte dos fetos velados,

não terão que se conformar com o inconformável.

Choram num grito trancado,

não verão a tragédia inexpectável.

Sorte dos fetos velados,

não serão corrompidos pelo egoísmo.

Coração bate parado,

não enxergarão as almas jogadas no abismo.

Sorte dos fetos velados,

não se contagiarão com a ignorância dos homens.

Olhos piscam fechados,

não saberão que valem os que mais consomem.

Sorte dos fetos velados,

não serão manipulados pelos detentores do poder.

Pulmão respira asfixiado,

não ouvirão o gemido dos que morrem querendo viver.

Sorte dos fetos velados,

não serão mais um rosto na multidão.

Sangue corre coagulado,

não sentirão o que é solidão.

Sorte dos fetos velados,

não sofrerão com a dor da existência.

Cordão da vida foi cortado,

não precisarão saciar suas carências.

“Pobre” dos fetos velados,

não comerão bergamota debaixo do sol.

A alminha pede afago,

perdida no Evo ela não quer ficar só.